sábado, 4 de agosto de 2007

Relato D6: de Copacabana a Puno e a Cuzco

O ônibus pra Puno saiu pontualmente às 09:00. Até então, ainda tínhas a intenção de ir de trem de Puno a Cuzco na manhã seguinte, pois me disseram que é uma das viagens mais bonitas do mundo. Ficamos sabendo então, de algo que a Orient Express não coloca no bonito site deles: o trem sai só 4 vezes por semana. Além do mais, o cara do bus disse que a viagem de ônibus é muito bonita também, demora bem menos tempo e é bem mais barata. Então resolvemos que chegaríamos em Puno, almoçaríamos, faríamos o passeio das Ilhas de Urus e à noite pegaríamos um bus pra Cuzco, chegando lá de madrugada. A pressa é porque havia previsão de bloqueios para os dois dias seguintes.

A travessia da fronteira é aborrecida. Uns 20 minutos depois de sair de Copacabana chega-se à fronteira. Deve-se entrar na fila da aduana boliviana (20 min) e devolver o papel do visto que vc ganha na entrada no país. Em seguida, dirigir-se a pé para o lado peruano, pegar outra fila na aduana peruana (20 min) e pegar o papel com o visto deste país, apresentando sempre a identificação e o certificado de vacinação contra febre amarela. Nós levamos passaportes, mas não os usamos nenhuma vez - deu pra fazer tudo com a carteira de identidade brasileira mesmo. Troquei U$20 a S$3,17 (soles). Foi pouco dinheiro, mais tarde eu tive que trocar com um gringo no bus, senão morria de sede (e eu nunca mais achei uma taxa tão boa). Quase uma hora depois de chegar na fronteira, entramos no ônibus e partimos.

Foi aí que veio a segunda maior roubada da viagem toda: professores haviam antecipado os protestos e fechado a rodovia, faltando uns 45 minutos pra chegar em Puno. O cara da empresa até que foi profissional: pediu muitas desculpas e disse que nos levaria a pé através do bloqueio e do outro lado pegaríamos outro ônibus. Ao chegar perto do bloqueio, a fila de carros andava devagar e ainda havia esperança de que poderíamos atravessar; além do mais, não havia outros ônibus disponíveis lá do outro lado. Depois de levar quase uma hora pra andar uns 500 metros, o cara resolveu que iríamos a pé mesmo. Mochilas nas costas e começou uma caminhada de uns 2 a 3 km. Havia muito mais gente protestando do que eu esperava para uma cidade daquele tamanho - acho que quase toda a população economicamente ativa estava na passeata, gritando coisas do tipo "El SUTE unido jamás será vencido". Acabamos pegando o mesmo ônibus que nos trouxe - ele deu a volta por trás do bloqueio, pegando uma outra ponte. Chegamos em Puno às 13:30.

Ao chegar, o cara da empresa nos recomendou seguir direto pra Cuzco, pois estavam passando pelo bloqueio e não se sabia por quanto tempo. Ele mesmo comprou as passagens pra nós (S$25 cada), saindo às 14:00. Não deu tempo nem de almoçar - compramos uns lanches de presunto e queijo (S$3 cada), entramos no ônibus e fomos embora. O ônibus até que era moderno, desses de dois andares. Porém, logo eu descobri que não era um "bus turístico".

O conceito de "bus turistico" e "bus regional" é importantíssimo pra quem vai viajar pro Peru e Bolivia (e que eu aprendi um pouco tarde). No turistico vc paga um pouco mais caro, mas não tem gente no corredor e as pessoas não fedem. Não é preconceito, mas o caso é que os moradores locais pobres não têm acesso a água quente, e entram no ônibus depois de ter ficado horas vendendo aquelas comidas estranhas na beira da estrada - então somam-se o cheiro da pessoa com o da fritura velha, e tem-se uma idéia do estrago. Ir ao lado de uma pessoa fedida (como aconteceu durante mais da metade do trajeto entre Puno e Cuzco) muda totalmente o seu bem-estar em uma viagem.

Faltando 1 hora pra chegar em Cuzco estourou um pneu do bus. Esse assustou, pois estávamos em região montanhosa e correndo um pouco. O ônibus deu até uma rebolada no asfalto, mas foi tudo bem - o pneu foi trocado e chegamos em Cuzco às 21:30. Rachamos um taxi com Abey e Kassy, um casal de americanos que veio conosco desde Copacabana. Na rodoviária, a única vez em que fomos passados pra trás durante a viagem: perguntei pro taxista quanto era até a Plaza de Armas, e ele falou S$5. Só que, depois de o taxi sair ele veio com uma conversa de que era S$5 por pessoa. Eu quase desci do taxi na mesma hora, mas o local não parecia muito seguro. Acabamos pagando o que o cara queria, mas muito resignados. O preço justo é S$5 mesmo. A dica pros taxistas é não confiar nos jovens - prefira os mais velhos.

Segundo o Rough Guide, o Hotel El Grial era uma boa pedida, a cerca de U$20 o casal, mas chegando lá o preço era U$35 - acima do nosso orçamento - e não tinha vagas. O taxista nos indicou o El Qijote. Um bom hotel, bem limpo e com atendimento cordial da Dona Elisabeth, por S$50 o casal com desajuño. Instalamo-nos no quarto e fomos até a Plaza de Armas matar a fome, que a essa altura era grande. Comemos no Bembo's, uma lanchonete no estilo Burger King, bem moderna e bonita - dois sanduíches com hambúrgueres enormes, fritas e coca (total S$32).
A Plaza de Armas, assim como todo o centro turístico de Cuzco impressiona e continuou a impressionar pelos próximos dias. Não ficamos muito na Plaza porque começou a garoar e o frio era grande. Além disso estávamos bem cansados. Voltamos pro hotel e dormimos.

Um comentário:

micael disse...

ótimo relato. garimpei boas dicas (a do bus eu não esqueço). estou indo dia 28 de agosto a cuzco e puno. o tempo é curto mas a vontade é grande. vou continuar lendo seu proveitoso relato. Micael Borja